domingo, 20 de abril de 2014

#SÉRIE: "Mulher, eis aí o Teu filho"

Mulher, eis aí o teu filho [...] Eis aí tua mãe..." João 19.26,27;




Quando estamos doentes ou sofremos por alguma dor, naturalmente nossos pensamentos se voltam para nós mesmos. Não conseguimos mais pensar em nada, apenas na nossa dor. Quem já teve uma forte enxaqueca por exemplo sabe que nessas horas nos trancamos no quarto, fechamos as portas, janelas, desligamos qualquer tipo de barulho e esperamos que as pessoas ao redor se voltem para nós afim de nós ajudar e servir num momento como esse.


Jesus, suspenso na cruz, cheio de dores, sem quase conseguir respirar, pensou nos outros. 

Antes que a presença de Deus se afastasse e as trevas se espalhassem sobre a terra, Jesus tomou providências com relação a sua mãe. 

William Barclay escreveu: "Há algo de infinitamente comovente no fato de que Jesus, na agonia da cruz, no momento em que estava em jogo a salvação do mundo, pensasse na solidão de sua mãe durante o tempo em que lhe seria tirado".

 Ele, até o fim, continuou sendo um cuidadoso primogênito.

José, que era pai de Jesus no aspecto legal, estava morto havia um bom tempo. 

Foi mencionado pela última vez quando Jesus ficou para trás em Jerusalém aos doze anos de idade. (Lc 2.46). 

Após esse episódio, José sai de cena, apesar de Maria ser mencionada diversas vezes durante o ministério de Jesus. Sendo o filho mais velho na casa de uma viúva, tinha a obrigação de cuidar dela.

POR QUE NAQUELE MOMENTO?

Interessante pensar por que Jesus se dirigiu a sua mãe naquele momento? Ela estava com Ele durante todo seu martírio mas só nesse momento Ele se dirige a ela.

Os homens judeus normalmente vestiam cinco peças de roupa. 

Quando lemos que os soldados dividiram suas roupas "em quatro partes [...] restando a túnica" (Jo 19.23), isso não quer dizer que as rasgaram, mas que dividiram as quatro peças entre si. Mas tinham de decidir quem ficaria com a quinta veste, a túnica sem costura. Essa túnica era normalmente entregue ao filho pela mãe. Uma tradição diz que Maria entregou essa túnica a Jesus quando ele saiu de casa. 

Charles Swindoll chama a atenção para o fato de haver uma aparente associação entre as palavras de Jesus e o que faziam os guardas. Imediatamente após os soldados lançarem a sorte pela túnica de Jesus, lemos: "Perto da cruz de Jesus [estava] sua mãe" (Jo 19.25). A seguir vêm as palavras de Jesus a Maria e João.

Swindoll escreve: "Por que naquele momento? Ela havia estado lá o tempo todo, assistindo e chorando. Por que ele não a havia reconhecido ou falado com ela? Teria sido por causa da túnica sem costura? Creio que sim. Suas vestes externas não tinham qualquer significado [...] Mas quando eles tocaram na túnica, tocaram algo muito próximo de seu coração — a veste que Maria havia feito para ele". A tese de Swindoll é a de que Jesus olhou para a mãe quando os soldados começaram a disputar a túnica. Foi um olhar cheio de amor, cheio de lembranças, nesse momento, seus corações se encontraram, tudo o que viveram juntos como mãe e filho, todas as lindas memórias dessa relação vieram à tona. 

Jesus sabia que era um momento de despedida pois a natureza de sua relação seria alterada para sempre; 

Escutemos atentamente cada palavra.

"Aí está o seu filho" (Jo 19.26).

Ele falou com o queixo apoiado no peito, com os olhos fixos no chão. Apesar de ele ser filho de Maria, não estava se referindo a si mesmo. 

Nessa hora ele usou a palavra "filho" referindo-se a João, "o discípulo a quem Jesus amava" (Jo 13.23). Ela teria de "adotar" João como filho. João iria preencher da melhor forma possível o vazio e a dor provocados pela morte de Jesus. Maria estava perdendo um filho, mas ganhava outro.

Ele mal havia conseguido expressar essas palavras, quando outro gemido deixou seus lábios ressecados. Ele esforçou-se para ser ouvido e tentava olhar na direção de João.

"Aí está a sua mãe" (Jo 19.27).

João recebeu a missão de cuidar de Maria, como se ela fosse sua mãe.

Jesus estava plenamente consciente da dor que havia causado à sua querida mãe. 

Ele a chamou "mulher", da mesma forma que fizera nas bodas, em Caná. Não queria desrespeitá-la, mas ela precisava lembrar que ele era divino, e ela, uma mãe deste mundo. 

Na verdade, não há registro de que Ele a tenha chamado de "mãe". 

João aprendeu que quando alguém se aproxima da cruz recebe nova responsabilidade.

O cristão carnal deve retornar à cruz para receber sua incumbência. 
Viemos à cruz por desistir de nossos planos e ambições e para aceitar o  que nos é dado por aquele que lá foi suspenso por nossa culpa.

Jesus não repreendeu João por este haver partido. Quando João se aproximou da Cruz, não foram cobranças, ou acusações. João ganhou nova responsabilidade.

Se estivéssemos lá, a que distância ficaríamos da cruz? Perto ou a uma distância confortável? Será que a multidão nos teria intimidado, ou teríamos, de bom grado, deixado que os furiosos agitadores soubessem que éramos seguidores do homem que estava suspenso na cruz do meio? Teríamos ficado por perto, ainda que a cruz nos custasse o mesmo que custou a Cristo?

Na cruz, assim como João, somos convidados a assumir o lugar de Cristo no mundo. 

Quando Cristo orou, na noite anterior, disse: "Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo" (Jo 17.18). Algum tempo antes disso, ele ensinou aos seus discípulos: "Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. E aquele que não carrega sua cruz e não me segue
não pode ser meu discípulo" (Lc 14.26,27)

Você teria tomado conta de Maria se Jesus lhe tivesse pedido? "Mas é claro!", você dirá. Mas como podemos ter certeza? 

Temos essa mesma oportunidade todos os dias. 

As viúvas necessitam que o filho de outra pessoa tome conta delas. Mães solteiras precisam de pais substitutos para seus filhos. O doente e o incapacitado precisam ser visitados e cuidados com o mesmo espírito que o próprio Cristo os assistiria. "Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram" (Mt 25.40). Nossos pais precisam do mesmo cuidado carinhoso que proporcionaríamos à Maria. Somos seu corpo, suas mãos, seus pés.

Jesus nos convida a ocupar Seu lugar na vida de alguém, a ser um Cristo, um pequeno Cristo nesse mundo.

 "Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo" (Gl 6.14).

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