"Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias." Lutero
segunda-feira, 27 de abril de 2015
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sábado, 18 de abril de 2015
Filhos de um Deus Pródigo
INTRODUÇÃO
Lucas 15: 1-3;11-32
A maior parte das interpretações dessa parábola se concentra na súplica e no retorno do filho mais novo – Filho Pródigo.
Mas a bem da verdade é que a mensagem dessa história acaba por vezes negligenciada.
Nessa história, existem dois filhos; cada um representando uma maneira de parecer alienado, distante de Deus.
Nos primeiros versículos desse capítulo, Lucas ressalta que havia dois grupos de pessoas que se reuniam para ouvir Jesus: 1º os publicanos e pecadores, homens e mulheres que correspondem a figura do irmão mais novo. Essas pessoas não observavam as leis da bíblia, nem as regras de pureza seguidas pelos judeus; seguiam vivento irresponsavelmente.
Como o irmão mais novo, essas pessoas “saíram de casa”, abandonando a moralidade de suas famílias e sociedade.
Essas pessoas se reuniam constantemente ao redor de Jesus e isso intrigava e irritava os defensores da moral e religião da época e isso Lucas registra na frase: “Este homem recebe pecadores e até mesmo come com eles”
Pra quem era dirigido o ensinamento de Jesus com essa parábola? Para o segundo grupo, formado por escribas e fariseus.
OS DOIS FILHOS PERDIDOS
A parábola que Jesus conta deveria se chamar “ A parábola dos dois filhos perdidos”. É um drama que ocorre em dois atos: “O filho mais novo perdido” e o segundo ato; “o filho mais velho perdido”.
1º Ato:
O primeiro ato começa com um pedido breve e chocante: “Quero a minha parte da herança”.
Pedir parte da herança em vida era um profundo desrespeito. Fazer esse pedido a um pai vivo era quase que desejar a sua morte. O filho mais novo queria as posses do pai e não o pai em si. O relacionamento com o pai era só uma maneira de atingir o objetivo de desfrutar da herança dele.
Mais surpreendente do que o pedido do filho, é a resposta do Pai. Um Pai tradicional do Oriente Médio responderia a seu filho expulsando-o da família mas o Pai não fez nada sequer parecido com isso, Ele repartiu sua propriedade com eles. A palavra no grego usada aqui para propriedade é bios que significa vida.
Naquele tempo a propriedade de alguém dizia respeito a sua identidade, suas origens. Perder parte de sua propriedade significava perder parte de si mesmo. E uma vergonha na comunidade.
O que o filho mais novo está pedindo de fato é que o Pai reparta sua própria vida. E o Pai assim o faz. O Pai suporta com toda a paciência a perda de sua honra e a dor de ter seu amor rejeitado. Geralmente quando nos sentimos rejeitados ficamos bravos, fazemos retaliações e tudo o possível para tentar diminuir a dor e a afeição que tínhamos por tal pessoa.
Mas o pai não. O pai mantém sua afeição pelo filho e suporta toda a agonia.
2ª Cena do Primeiro Ato
O filho parte para uma “região distante” e desperdiça tudo
Quando está literalmente com a cara na lama, traça um plano...
“Trata-me como um dos teus empregados”
Os servos trabalhavam na propriedade e viviam ali. Mas os empregados eram homens do comércio, artesãos, que viviam na vila e ganhavam seus salários.
O filho mais novo tinha desgraçado sua família e toda a comunidade. Ele estava “morto” para eles, como descreve o Pai. (“meu filho estava morto”)
Quando uma norma da comunidade era violada, só pedidos de desculpa não bastava – nesses casos, eranecessário uma restituição. O filho planejava dizer: Pai, sei que não tenho direito de voltar à família, porém, se você me fizer aprendiz de um empregado seu, então poderei aprender uma profissão e ganhar um salário e começar a pagar minha dívida. Esse era o plano.
E aí chegamos à ultima cena do 1º ato
O filho mais novo se aproxima de casa, ficando ao alcance da vista do Pai.
O Pai o vê e corre, corre em sua direção.
Como regra geral, os patriarcas do Oriente Médio não corriam, jamais levantariam suas túnicas e mostrariam as pernas nuas como um garoto qualquer.
Mas esse pai fez. E quando chegou ao filho o abraçou, beijou, seu filho meio sem graça tenta se explicar mas o Pai o interrompe em seu discurso e diz: “Tragam a melhor roupa e vistam nele!”
A melhor roupa que existia na casa era do próprio Pai!
O que o Pai está dizendo é: Não irei esperar até que você pague a dívida, não irei esperar até que você se humilhe o suficiente, você não vai ter que lutar por seu lugar na família. Irei simplesmente aceita-lo. Cobrirei sua nudez, sua pobreza, seus trapos com a roupa do meu trabalho, com a minha honra.
O Pai ordena que separem um “novilho gordo” para um banquete de comemoração.
Carne, era uma iguaria muito cara na época. Mas nenhuma carne era mais cara do que a de um novilho gordo. Um banquete desse nível era raríssimo!
O primeiro Ato da história já desafia a mente dos “irmãos mais velhos” com a surpreendente mensagem de que Deus pode perdoar e restaurar todo e qualquer pecado ou transgressão.
Jesus descreve o Pai correndo para seu filho antes mesmo do seu filho recitar o discurso de arrependimento.
Nada, nem mesmo o arrependimento pode merecer o amor de Deus: o amor e o acolhimento de Deus são absolutamente gratuitos.
2º Ato
O segundo ato começa quando o filho mais velho ouve dos servos que o irmão mais novo chegou e que seu Pai o aceitou.
Agora é a vez do filho mais velho desgraçar o Pai.
O Filho mais velho se recusa a participar do que talvez fosse o maior evento publico realizado por seu Pai.
Ele fica do lado de fora, publicamente demonstrando que não aprova as ações do Pai.
Essa atitude obriga o Pai a sair do seu banquete, algo que era degradante quando se é o anfitrião. O Pai suplica para que o filho participe mas ele continua a se recusar.
O filho argumenta: você jamais me deu um cabrito para eu festejar, como ousa dar a ele um novilho?
Ao admitir novamente o filho mais novo na família, o Pai o torna novamente um herdeiro e é esse o motivo da revolta do filho mais velho. E é aí que ele começa a enumerar motivos de sua revolta dizendo que sempre se matou de trabalhar...
E aí o que o filho mais velho diz é: “eu nunca desobedeci as Tuas leis, portanto eu tenho os meus direitos!”
Eu mereço ser consultado em relação a isso tudo...você não tem o direito de tomar as decisões sozinho.
Ele não trata o Pai com o respeito devido, ele logo chama “olha”, como se fosse: “escute aqui”
Como o Pai responde à rebeldia declarada do filho mais velho?
O Pai novamente responde com incrível brandura, ele diz: Meu filho, apesar de você ter me insultado em público, ainda quero que você participe do banquete, o banquete da salvação.
E então aqueles que estavam ouvindo Jesus começam a se perguntar: Será que a família finalmente irá se reunir? Os irmãos se reconciliarão?
É exatamente quando todos esses pensamentos começam a passar pela cabeça que a história termina!
Pq a história termina aqui? Pq quem decide como termina essa história estava bem diante de Jesus. Jesus falava com aqueles que tinham o coração do irmão mais velho e com os que tinham o coração do irmão mais novo e só o quebrantamento desses corações define qual o fim dessa história. O Pai convida todos nós para o banquete de salvação.
O jovem rapaz humilha e vive uma vida consumista e inconsequente. Acaba alienado do Pai, que representa Deus na história. Qualquer um concorda que uma pessoa como ele estava afastado de Deus.
No segundo ato, encontramos o filho mais velho, meticulosamente obediente ao Pai, ou seja, aos mandamentos de Deus.
Assim, temos dois filhos: um “mau”, pelos padrões convencionais e o outro “bom”, ainda que ambos estivessem completamente distantes do Pai.
O filho mau (mais novo) participa do banquete do Pai, mas o filho bom não o acompanha. O amante das meretrizes é salvo, mas o homem da retidão moral continua perdido.
Mas Jesus não para por aí na história. Pq o filho mais velho decide não participar? Ele mesmo responde: "nunca desobedeci as tuas ordens". Não são os pecados que criam barreiras entre ele e o pai , mas o orgulho que sente do seu histórico moral; não são suas transgressões mas sua retidão que o impede de partilhar o banquete do Pai.
O coração dos dois irmãos são na verdade muito parecidos: o mais novo queria tomar suas próprias decisões, assumir o controle de sua própria vida, queria os bens do pai.
O mais velho também queria os bens do pai, e não o pai. Só que enquanto o mais novo vai para uma região distante, o mais velho ficou por perto e “nunca desobedeceu” poisesse foi o caminho que ele encontrou para tomar o controle.
Jamais desobedeci e então você tem que fazer por minha vida as coisas que desejo que sejam feitas.
Consegue perceber o que Jesus estava ensinando? Nenhum dos dois amava o Pai de verdade. Ambos estavam usando o Pai para os seus próprios fins.
Se, como o irmão mais velho, você busca controlar Deus por meio da sua obediência, então toda sua conduta irrepreensível não passa de uma maneira de usar Deus para ele fazer o que você deseja.
Os irmãos mais velhos obedecem a Deus para atingir seus objetivos e não para chegar ao próprio Deus.
Há duas maneiras de ser seu próprio Salvador e Senhor: uma delas é ao quebrar todas as leis morais e estabelecer seu próprio rumo e a outra é ao seguir todas as leis morais e ao ser muito, muito bom.
Jesus não divide o mundo entra mocinhos e bandidos. Ele mostra que tanto os que julgamos mocinhos quanto os bandidos possuem dentro de si o mesmo desejo de usar a Deus para obterem poder e controle. Todos precisam de salvação e de um salvador.
“Quando um jornal publicou a pergunta: O que está errado com o mundo?, o pensador católico Chestertonescreveu uma breve carta em resposta: Queridos senhores, Eu estou. Esta é a atitude de alguém que compreendeu a mensagem de Jesus." Timothy Keller
Vemos na parábola, os dois filhos muito preocupados com coisas, e não com o amor do Pai. E o Pai em nenhum momento desvia seu foco do amor às pessoas e não às coisas.
Quando falta a graça, corremos o risco de amarmos mais as coisas do que as pessoas.
A história do menininho das mãos: “olha papai, nunca mais vou riscar seu carro”
Muita gente esmaga pessoas, fere as pessoas por causa de coisas. Falta graça.
Quando você anda na ponte rio-niterói por exemplo, a ponte balança, já viu isso? Sabe pq pontes e viadutos balançam? Pra não cair!
Aquilo que é rígido demais, quando vem o temporal se arrebenta. Sabe quais as arvores que suportam os vendavais? São àquelas que beijam o chão durante o temporal e depois voltam ao seu estado normal.
É preciso aprender a ser mais tolerante com as pessoas, é preciso aprender a perdoar, é preciso aprender viver debaixo da graça.
Quem é o pródigo da história? Pródigo não significa “rebelde”. De acordo com o Dicionário, pródigo significa gastar até não sobrar nada.
Pródigo nessa história é o Pai, que gastou tudo de si mesmo. Se humilhou e foi correndo até o filho mais novo. Que desceu da glória do Seu banquete e foi lá fora buscar o filho mais velho.
O Pai que “em Cristo reconciliava-se com o mundo, não imputando aos homens suas transgressões” 2 Coríntios 5:19
“que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” Filipenses 2:6-8
Um Pai que deu seu filho para morrer “em nosso favor quando ainda éramos pecadores.” Romanos 5:8
Esse é o verdadeiro Pródigo: Deus.
Para saber mais sobre o assunto, sugiro o livro:
O Deus Pródigo. Keller, Timothy
Em O Deus pródigo, o autor best-seller do The New York Times, Timothy Keller passeia pela mais conhecida parábola de Jesus, repleta de ensinamentos decisivos sobre nosso relacionamento com Deus, apresentando-nos tanto como “irmãos mais novos” quanto “irmãos mais velhos”. Uma obra para refletir não somente sobre a parábola, mas sobre como resgatar a essência da fé Cristã nos dias de hoje.